quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Desventura no Picadeiro da Vida – Por Kehrû



Entre boêmios o homem espreita

Sem duvidar dessa sua certeza

Enterra o passado na sola do pé

E derrama sua desperdiçada vida

Vivida, desmedida na lata de Golé

Morre de ataque ao ver que na lida

O misere que vivia fazia do seu lar

Uma grande montanha, até fico sem ar

De contar tamanha desventura vivida

Na altura da infelicidade ele resistia

Não querer mais o palco e trazia vazia

A mala velha que antes bem guardava

Narizes de palhaços que ele já vestira.


Não contente com a vida de artista

Saiu do picadeiro como pipoqueiro

E virou bandido. Sofrido o coitado

Pela vida foi afoitado e mau jurado

Prejudicado por sua própria atitude


Não tinha no peito o coração de antes

Que perante o instante não se julgava

O homem de outrora e não encontrava

O meio disso tudo no homem de agora

O homem quis ser palhaço dessa vida

Deixou pra trás a fantasia de homem

Queixou do ontem dizendo onde jazia


Não estava a mais de alguns metros

Daquele terreno baldio do outro lado

Pela tenda já não estava mais ocupado

E o palhaço que era homem de fato

A seu risco fantasiou-se de homem

E viveu o resto do fim sendo palhaço

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Esperanças Póstumas - Rogério Costa

Quando tudo parece difícil
Quando tudo permanece instável
Inconstante, frio e infeliz
Chega o tempo e diz

- Vida, caminhe com os olhos
Com ou sem lagrimas...
Vermelhos, brancos ou amarelos
Sempre com esperança póstumas

Não adianta saber da vida
Não adianta julgar-se feliz
Sem saber da tristeza.
Chega outra vez o tempo e diz

-Você não pode deixar a luta
Não pode temer o mundo
Nem desprezar os que cercam
Viver é tudo, "é raso e profundo"

Se o medo bater
Tema não temer
Tema não sofrer
Teime em lutar

Sem esperar a sorte
E a morte não lastimar
Corteje-a e seja forte
Ante tudo só podes amar

O que tens e não tens
O que pode e nunca poderá
O que sonha ou realizará
Não duvide! O que precisa saberá

"Poesia de improviso escrita em nome da amizade"

sábado, 24 de outubro de 2009

A Efêmera Infância Dessa Vida



São 4 horas da manhã;

Seu Zé Altivo e dona Nadir acordam pra trabalhar.
Nadir ficava em casa, esquenta os pães de queijo que assara e guardara no frezzer para conservar.
Fazia uma boa garrafada de café quase amargo e punha na mesa junto com o doce de leite, geleia natural de amora, frutas, biscoitos e pedaços de rapadura para começar o dia bem.
Altivo colocava o casaco já antigo, suas galochas brancas, dava uma talagada numa dose de cachaça e abre a porta...


E vê o mundo!


Meio noturno por causa da hora, avistava os vultos das asas das galinhas que acoadas tagarelas, as chocadeiras em cima da goiabeira.


Via o estampado por entre as sombras de um pé de manga sabina e de um bananal.


Um córrego cortava a divisa com seu vizinho que sempre perde no truco quando Altivo jogava tendo de parceira sua Nadir.

Tinha mandiocal

Mais manga

Mexerica

Amora

Galinha da angola

Tinha o Lipe!

Lipe era o companheiro de trabalho do seu Altivo, um cão branco, quase uma ovelha no tamanho, que sempre corria ao lado de todos nas roças, e no apartar das vacas era pastor experiente.
Descendo o trilho de terra entre o pomar, logo depois da sede avistava pés de carambola, outro de acerola e uma porteira que leva seus olhos pra frente de uma serra com uma gigante pedra branca, mas parecia uma janela cintilante quando o sol batia nela...


Uma Ponta da serra que some pelo horizonte.

Descendo mais, antes de chegar no fundo do curral tinha um chiqueiro na beirada da porteira e do outro lado uma horta. Pouco antes de tudo dito a maquina de moer cana, de onde saia rapadura e garapa bem doce e saborosa toda manhã depois do trabalho.
Anos e anos repeti essa visão das 4 horas da manhã e todo o passar do tempo.

Mas com a vida terminando, eles decidem deixar a fazenda para os filhos, o lugar de tantas felicidades e amizades do Truco com tentos de semente, com o blefe bem famoso pela região:

- Nadir, você sai com o zap, eu com o sete ouro... Vou te mandar um "treizinho" só pra não assustar o cumpadre.

Seu blefe só tinha um problema...

Seu Altivo sempre acertava.

Das crianças nos dias de final de semana correndo e se espatifando pelo pasto, com espinhos no pé e mangas na mão, mulheres habilidosas com seus temperos mineiros todos misturados como um sangue de familia, da prosa curiosa e sempre bem iventada que Altivo contava ao anoitecer, sendo a atenção desviada apenas pelos tapas que dava-mos quando as muriçocas nos picava.

E aquela fazenda de tantos pés, de tantas crianças, de tantos sonhos e brincadeiras e que eles tanto lutaram pra construir, pé por pé, foi alagada pelo mar que arranjaram pra Minas....

E faleceu na mão de quem desconheço.

O que sobrou depois?
Nadir e Altivo fora morar em outra roça onde nada tinha, apenas um capim de areia, vaca magra e uma vista triste e cega até o horizonte da rodovia.

Nadir morrera de enfarto.

Altivo de desamor.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Savassi e o caipira - Rogério Costa


Não se vê de onde venho o que eu vi nessa capital
Lá não falta pão na mesa nem horta no meu quintal
Não vejo meninos de cara branca plantado no sinal
Parece cometa jogando seu bastão de chama bem acesa
E se espera da realeza um trocado da sua má frieza
Pois te digo não é compromisso na Savassi da nobreza

Me encara aqueles prédios que de grande não tem nada
Não tem mato, só estrada, nem tem pasto, Ipê e alvorada
Te digo mais adiante que não há paz nessa dura caminhada
O progresso avançando no meu bolso o custo desse patrocínio
Nosso povo não sabe tanto que paga sem cobrar esse latrocínio
E dizem que não vale a pena a constituição ser o certo caminho

Quem disse que conhece a capital não sabe tanto que é bonita
Tantos postes, tanta pista, gente morta fingindo viver maldita
Não seguindo o caminho, parada sem destino, vai a vida partida
Queria ver querida se acha bonito tanta mágoa nesse rio poluído
Sem sentir toda água nascer seguindo o caminho do mar tão perdido
E no meio do caminho a beleza proibida é enferma antes de parida

Vou é morrer na minha vida pobre pra alguns que do dinheiro vive
Muito rica pra quem sabe o valor que a terra tem com a ave livre
Não nego minha matutisse que carrego pelo mato desde de meninisse
o espinho do juá, caroço de pequi, azedo do cajá, flor de flamboyã
A curva do cipó, o néctar da abelha, sombra de gameleira pela manhã
E vivo sempre uma nova vida a cada noite que morro nascendo amanhã

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Bouganville - Por Rogério Costa


Oriente e a Paciência - Rogério Costa

Estável meu caminho flutua
Atento meu destino deseja
Vivendo meu desejo fecunda
Consentimentos, sentimentos
Que minha alma agora inunda

Fica aberto pelo lado de dentro
O momento que acontece – E que aconteceu
Espero na acepção do seu foco
Meu foco brilhar como já ocorreu.

Meu “pseudobudismo” é intenso
Singelo e perceptivo neste contento
Ressalta nessa hora, constante
Meu juvenil e sagaz conhecimento

Saber esperar o momento
Jejuar o desejo transitório
Arquitetando todo o bom tempo
No sábio pensamento não contraditório

Não perder o momento
Que passo a partir do agora esperar.
Sem a pressa de envelhecer com o tempo
E no desjejum gozar do que realmente é amar.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Humanos e os mundos possiveis - Rogério Costa

O caso de Antero - Paredes de Bordel


Antero em seu leito,

No deleite da dor descoberta

Revela Dianna após o feito

O pranto (ou encanto) da morte certa:


- Acho que tenho AIDS... (Sussura Antero)

Daqui, dessas paredes pra fora

Em mente pretendo viver...

O dia é muito grande pra isso conter.


Livre do mundo lotado de gente

Amarei a todas prostitutas

Deusas desnudas indecentemente

Amá-las-ei sexualmente.


- Acho que tô surtando Antero!

Temo tudo ditado nesse sonho

Já nenhum carinho eu pondero

Nada dessa vida já eu quero.


Dias que não vejo o mundo...


Dias de morte - entreguei-me ao seu gozo

Dias de paz - Já não tem seu doloso dorso


- Partindo de nós! (Diz Antero ao fundo).


- Jaz é noite Mulher! Durma um pouco.

Se for a morte traga-me um trago...

Deixo-te em carne viva o meu gozo

E levo à tumba a cicatriz do teu cigarro.


- Mulher!


- Quero ir a morte condenando-a

Mordendo desejos,

Bocejos na manhã,

E os cães raivosos rodeando


Até desistir de amar...

E você os viciando

Aprontando com seu sexo

Distorcendo sua dor...


Calando tua voz

O matando lentamente

No sereno dessa vida

Do amor sobrevivente

Apenas um ser – Rogério Costa





Além do sonho

Que precisa pra se sustentar

Amamentar o recém-nascido

Esquecido dentro do seu lar


Que precisa de um anjo

Pra sua causa abraçar

Por causa daquela tristeza

Que precisa dele – Que frieza


Que precisa do mundo

Pra se sentir sozinho

Sem precisar de abrigo

Entre tudo que é profundo


Mas do que tens à precisar
Ande com olhos e passos
Meio de canto a observar
No meio de sons a estalar


Meio a precisar de tudo...

Tudo que está a consumir

Não preciso morrer

Não preciso ferir


Apenas às vezes sofrer

Apenas às vezes ser feliz

E ver todos a chorar e sorrir

Apenas um ser se sentir


sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Humanos e os mundos possiveis

O amor por Dianna - Rogério Costa


Fardo pesado do sonhar

Fado trágico por te amar

Cala cansado de pensar

No que faz de ti meu lar


E persiste novamente em tentar

Não cessa de sempre lembrar

Ou de esperar o tudo chegar

E confia que não vai tardar


Nessa noite sonho contigo

De sentir teu beijo tenro

- Na boca, água eu bem sinto

Do teu corpo febril e tenso


Hoje volta ele novamente

Como um tolo indecente

Pagando o delírio dolente

Sonhando na luz desse luar


Na copa mais alta do galho

Tem um pequeno bem-te-vi

No tom pastel do seu marrom

O amarelo vivo vive a inchar


Pra cada pio do passarinho

Ressalta-me tanto que de ti

Um dia sem pensar esperara

E a paciência sendo coisa rara


Mas sagrada dentro do teu pio

Mas amada que a vida desse cio

Cada belo cenário, até lá chegar

E ver em outro homem seu olhar


Assim em mim consagro Platão

Amante do segredo que vai em vão

Contemplando distante tal entrega

Escrevendo assim minha pura inveja


Do amor que eu presenciara

Da vida que pra mim sonhara

Deste sonho que eu sempre fiz

De uma vida distante mais feliz

quarta-feira, 2 de setembro de 2009


As recordações de um passado sem historia.



Abro a porta...
Dentro de um apartamento
Coloco na estante empoeirada
Parte de mim, algo que não importa

Vejo em um porta- retrato vazio
O que poderia ser de nós dois,
Se algum dia nós fomos só um,
Se algum dia fomos um!

As recordações que não vivi
São duras demais pra mim.
Quem dera fosse nós dois
A sofrer por tão pouca coisa, pois...

Vejo na cama vazia...
Dois travesseiros,
Um edredom e uma foto
Que podia bem ser sua.

Mas não há fotos para recordar,
Não há cheiro para eu relembrar,
Nem o beijo que sempre sonhei em te dar...
Mesmo sonhando me deixando sem ar.

Vejo na janela um mundo aberto
Um peito cheio, coalhado de liberdade...
Uma mente aberta cheia de sonhos,
E na vida uma solidão, coração vazio na verdade...

Que não se dá...
Que não se tem...
Que não se quer...
Que não te acha...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Borboleta e a flor de suspiro


Afinidade entre o homem e o retrato – Rogério Costa

O vento sul que toca este menestrel
Deste céu azul das nuvens brancas.
Traço de tom salmão laranja o véu
De brisas frias a soprarem brandas

As afinidades dos seus sons
Das cores pueris daqueles tons
Cada qual neste mesmo lugar
Sigo um querer de te apreciar

Cada linha deste tolo rabisco
Submete ao que eu desconheço
Afina sintonizando a cada Trisco
O tom tenor que ouve no começo

A fim de conhecer esse seu tom
Som de um esperado cortejo
Da letra inspira o meu suposto dom
Dentre meu contexto há tal desejo

Teu olhar vivera naquele retrato.
Não falo dos olhos tão bem ilustrados
Mas do encanto que fizera tal relato
Capturar vida daqueles verdes prados

Da flor lilás que em seus dedos esteve
Ruas de pedras que teus pés andaram
Da Igreja barroca que à você entreteve...
E o mar anil que suas vistas miraram?

Nada conheço dessa minha vontade
De cobiçar, apreciar quem quão olhara...
Não dos retratos que fez sua verdade
Pode ser degustar o som da sua palavra.

Essa foi como a primeira vez
De muitas que já queria ter.
Ou aquela antiga verdade eu ver - (Ou da verdade viver)
Quanto de sincera curiosidade
Sinto aqui, tristeza ou felicidade?

De fazer
Receber
Desejar
Gozar ou padecer...

Da vez que você findará meu olhar
Receberei os seus com certo agrado.
Ter conhecimento do desejado tato
Ou só lhe ver... E eu aceitar este fado.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

"o homem que mata, o homem que mente."


Genética do karma - Kehrû

Caminho curto
Curto passo
Curto de tão
Pequeno passo

Empacto DNA

Caminho a passo
Largo no caminho
No último maninho
Ultrapasso o passo

Passo a passo
Compasso reto
Com passo largo
Largo e retro

Simpático DNA

Com armas e mortes
Banhas e pacotes
Vidas de mentiras
Postumos post's

Harmónico DNA

Tempo do contra
De findo encontro
Do que era homem
Que no hoje é porco

Ativo DNA

quarta-feira, 1 de julho de 2009



O palhaço da vida - Rogério Costa

Tristeza que vira comédia,
Comédia que faz a vida ser feliz.
Como é dia de tristeza - Que beleza!
Então passe a sorrir.

Com média em todas as tragédias,
É inútil resistir assim, sem sorrir...
Como é de alguma pessoa não ver?
O mundo merece a tristeza!

É triste sonhar, com um mundo assim,
sem tristeza - Que dureza!
Ser feliz pra sempre é chato, mas enfim...
Seria chato até pular de para-quedas.

Ah! mas não se esqueça de chorar.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Rolinha-cascavel - Foto: Rogério Costa


Sinhá do rio - Rogério Costa

Dentro da ave que canta
Ressurge o sonho que voa
Ecoa na branda montanha
Suave no ar teu pio ressoa

Dentro de mim canta a vida
Reaprende a origem do pulsar
Desse fogo brando vai-se viva
Em teu rio, traços fico a riscar

Dentre o peixe que vive no rio
Ressurge à esperança desse nadar
D'agua que dentre esse molhar frio
D'alma que põe teus seios a banhar

Dentro de você desejo o quão saber
Revolta a minha dúvida no pensar
Se é o rio que pode fazer-te viver
Se é tu que de vida fará me matar


quinta-feira, 25 de junho de 2009




Imagens da solidão - Rogério Costa


Amargo que o encobre
- E essa dor de nada ver?
Apenas o voto nada nobre
Apenas um vão de nada ser

Corresponde seu afeto obscuro
O cheiro de torpe nesse frio corpo
- Nada que seja razo é o que procuro!
Talvez o que seja genioso como o corvo.

Calmo... Aqui, tudo em silencio
Nada no ar... Nada naquele sotão
Vácuo... Tudo enfim em silêncio
Antigos copos em cacos ao chão

Apenas dor!
Apenas ar que o falta
Apenas falta de calor
- Humano! Apenas me falta amor.

Assim é a escuridão
Viver como um só
Só, como o própio vão
Só como só a solidão.

Vou-me Embora pra Pasárgada



Manuel Bandeira

No final do ano de 1904, o autor fica sabendo que está tuberculoso, abandona suas atividades e volta para o Rio de Janeiro. Em busca de melhores climas para sua saúde, passa temporadas em diversas cidades: Campanha, Teresópolis, Maranguape, Uruquê, Quixeramobim.

"... - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.

- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino."

Em 1910 entra em um concurso de poesia da Academia Brasileira de Letras, que não confere o prêmio. Lê Charles de Guérin e toma conhecimento das rimas toantes que empregaria em Carnaval.

Sob a influência de Apollinaire, Charles Cros e Mac-Fionna Leod, escreve seus primeiros versos livres,em 1912.
A fim de se tratar no Sanatório de Clavadel, na Suíça, embarca em junho de 1913 para a Europa. No mesmo navio viajam Mme. Blank e suas duas filhas. No sanatório conhece Paul Eugène Grindel, que mais tarde adotaria o pseudônimo de Paul Éluard, e Gala, que se casaria com Éluard e depois com Salvador Dali.

Em virtude da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, volta ao Brasil em outubro. Lê Goethe, Lenau e Heine (no sanatório reaprendera o alemão que havia estudado no ginásio). No Rio de Janeiro, reside na rua Nossa Senhora de Copacabana e na Rua Goulart.


Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

terça-feira, 23 de junho de 2009

"SE" - Prof. Hermógenes

Nascido em 9 de março de 1921, em Natal, Rio Grande do Norte, José Hermógenes de Andrade Filho é considerado o pioneiro em medicina holística no Brasil, com mais de 42 anos de prática e ensino de yoga.
Filósofo, poeta, escritor e terapeuta, o professor Hermógenes costuma dizer que se sente mais jovem hoje, aos 85 anos, do que se sentia aos 35. Doutor em yogaterapia, título concedido pelo World Development Parliament, da Índia.


Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia...

Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas...
Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser...

Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo...
Se algum ressentimento,

Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,

E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou...

Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio...

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu...

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia...

Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende...

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim...

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito...

Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz...

Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou...

Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos, Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Terra do Tijuco

Meu canto, minha terra
Meu canto de onde vem?
Meu canto vem de minas,
Do Tijuco sem vintém...


Minas canto que posso ser
Mais em mim seu...
Do que seu em você...

Meu sertão da farinha podre
Já esquecida pelo homem
Já adormecida, por sonhar!
Jaz sofrida pelo rubro homem

Sou mineiro da terra farta
do deserto verde, palmeira
e mata, poeira, e estrada.
E da natureza tiro minha raça.

Minas canto que posso ver
mais em mim que em você
que sou eu, você..

Arara no céu, periquito, anú,
Anil no céu, nuvens coloridas...
Todas num tom de azul.
E as Paineiras bem floridas!

Meu conto que te canto é verdade!
De uma terra de historias tristes...
Que do poder, o homem "sacro"
fez homens vermelhos infelizes.

Minas canto de triste por você,
Mais em mim vai renascer
o que já foi o tudo em você.