quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Savassi e o caipira - Rogério Costa


Não se vê de onde venho o que eu vi nessa capital
Lá não falta pão na mesa nem horta no meu quintal
Não vejo meninos de cara branca plantado no sinal
Parece cometa jogando seu bastão de chama bem acesa
E se espera da realeza um trocado da sua má frieza
Pois te digo não é compromisso na Savassi da nobreza

Me encara aqueles prédios que de grande não tem nada
Não tem mato, só estrada, nem tem pasto, Ipê e alvorada
Te digo mais adiante que não há paz nessa dura caminhada
O progresso avançando no meu bolso o custo desse patrocínio
Nosso povo não sabe tanto que paga sem cobrar esse latrocínio
E dizem que não vale a pena a constituição ser o certo caminho

Quem disse que conhece a capital não sabe tanto que é bonita
Tantos postes, tanta pista, gente morta fingindo viver maldita
Não seguindo o caminho, parada sem destino, vai a vida partida
Queria ver querida se acha bonito tanta mágoa nesse rio poluído
Sem sentir toda água nascer seguindo o caminho do mar tão perdido
E no meio do caminho a beleza proibida é enferma antes de parida

Vou é morrer na minha vida pobre pra alguns que do dinheiro vive
Muito rica pra quem sabe o valor que a terra tem com a ave livre
Não nego minha matutisse que carrego pelo mato desde de meninisse
o espinho do juá, caroço de pequi, azedo do cajá, flor de flamboyã
A curva do cipó, o néctar da abelha, sombra de gameleira pela manhã
E vivo sempre uma nova vida a cada noite que morro nascendo amanhã

Um comentário:

  1. ..."Sem sentir toda água nascer seguindo o caminho do mar tão perdido"...

    gostei disso!

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