sábado, 29 de maio de 2010

Até as 3:30

Como conquisto sua lealdade?
Apenas espero o sorriso
me vendo como alívio
Que se dá como verdade

Não espero contrato
Seu trato de posse
Não quero um retrato
um recado no passaporte

Do gozo alheio de outras
Desejo conhecer seu cheiro
Sua saliva, suor, fio de cabelo
Encarnando nesse meu peito

Dedico um intenso sexo
Corpos suados e calorosos
Obscenos, mas amorosos
Instintivo como um reflexo

Minha liberdade escancara
Na forma de amar a esperança
Sentindo todo seu calor vital
Dentre suas pernas e entranhas

Já frio por tanta experiência
Que acende com excitação
Quando ouço aquela canção
Que mexe com nossa essência

E te ver rir com uma piada
Que lembrara sua infância
E ver que a vida é um segundo
Baque destinado à esperança

Dedico algumas horas
Desse calor, amor, tesão
Certidão do que interessa
Mas não faremos depressa

Aguentaremos uma soma
De tudo que sofremos
Da vida que prega peça
Nesse rito nos comemos

Com a fome do leão
Devorando a presa
Dentro da certeza
De que não há outro dia

Gozaremos nossos sonhos
Na carne de ambos
Sala, quarto, jardim
Nos gritos, riscos, beliscos

Sem regra no poema
Do ventre, a contração
Sem limites na transa
Do membro, a pulsação

Aceita como pagamento
Meu respeito à sua liberdade
Meu carinho daquele jeito
E minha reciprocidade?

sábado, 8 de maio de 2010

O dia mais longo desses dias curtos


O relógio é lento
Tudo traduz o tempo
Momento de solidão
Pensamento vão

Passa o dia contando
Segundos de ilusão
Perdendo o presente
sem tal pretensão

No fim da tarde
Vê que nada fez
A não ser o alarde
De se imaginar feliz

E o tempo acabou
Nada chegou
Nada desfez

E dormiu outra vez

domingo, 18 de abril de 2010




Parei de fumar.

Passo o manto do pensamento
Contesto em contratempo
respiro nalgum momento

Pego o cigarro
Penso
E paro.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Antiquário dos Espelhos.



O novo que quer ser velho no passado
O velho que sonha com o novo no presente
O sonho que vive o velho do futuro
O Tempo me matando pouco a pouco

Preciso embriagar-me de algo.
Então, que seja de você.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Desventura no Picadeiro da Vida – Por Kehrû



Entre boêmios o homem espreita

Sem duvidar dessa sua certeza

Enterra o passado na sola do pé

E derrama sua desperdiçada vida

Vivida, desmedida na lata de Golé

Morre de ataque ao ver que na lida

O misere que vivia fazia do seu lar

Uma grande montanha, até fico sem ar

De contar tamanha desventura vivida

Na altura da infelicidade ele resistia

Não querer mais o palco e trazia vazia

A mala velha que antes bem guardava

Narizes de palhaços que ele já vestira.


Não contente com a vida de artista

Saiu do picadeiro como pipoqueiro

E virou bandido. Sofrido o coitado

Pela vida foi afoitado e mau jurado

Prejudicado por sua própria atitude


Não tinha no peito o coração de antes

Que perante o instante não se julgava

O homem de outrora e não encontrava

O meio disso tudo no homem de agora

O homem quis ser palhaço dessa vida

Deixou pra trás a fantasia de homem

Queixou do ontem dizendo onde jazia


Não estava a mais de alguns metros

Daquele terreno baldio do outro lado

Pela tenda já não estava mais ocupado

E o palhaço que era homem de fato

A seu risco fantasiou-se de homem

E viveu o resto do fim sendo palhaço

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Esperanças Póstumas - Rogério Costa

Quando tudo parece difícil
Quando tudo permanece instável
Inconstante, frio e infeliz
Chega o tempo e diz

- Vida, caminhe com os olhos
Com ou sem lagrimas...
Vermelhos, brancos ou amarelos
Sempre com esperança póstumas

Não adianta saber da vida
Não adianta julgar-se feliz
Sem saber da tristeza.
Chega outra vez o tempo e diz

-Você não pode deixar a luta
Não pode temer o mundo
Nem desprezar os que cercam
Viver é tudo, "é raso e profundo"

Se o medo bater
Tema não temer
Tema não sofrer
Teime em lutar

Sem esperar a sorte
E a morte não lastimar
Corteje-a e seja forte
Ante tudo só podes amar

O que tens e não tens
O que pode e nunca poderá
O que sonha ou realizará
Não duvide! O que precisa saberá

"Poesia de improviso escrita em nome da amizade"

sábado, 24 de outubro de 2009

A Efêmera Infância Dessa Vida



São 4 horas da manhã;

Seu Zé Altivo e dona Nadir acordam pra trabalhar.
Nadir ficava em casa, esquenta os pães de queijo que assara e guardara no frezzer para conservar.
Fazia uma boa garrafada de café quase amargo e punha na mesa junto com o doce de leite, geleia natural de amora, frutas, biscoitos e pedaços de rapadura para começar o dia bem.
Altivo colocava o casaco já antigo, suas galochas brancas, dava uma talagada numa dose de cachaça e abre a porta...


E vê o mundo!


Meio noturno por causa da hora, avistava os vultos das asas das galinhas que acoadas tagarelas, as chocadeiras em cima da goiabeira.


Via o estampado por entre as sombras de um pé de manga sabina e de um bananal.


Um córrego cortava a divisa com seu vizinho que sempre perde no truco quando Altivo jogava tendo de parceira sua Nadir.

Tinha mandiocal

Mais manga

Mexerica

Amora

Galinha da angola

Tinha o Lipe!

Lipe era o companheiro de trabalho do seu Altivo, um cão branco, quase uma ovelha no tamanho, que sempre corria ao lado de todos nas roças, e no apartar das vacas era pastor experiente.
Descendo o trilho de terra entre o pomar, logo depois da sede avistava pés de carambola, outro de acerola e uma porteira que leva seus olhos pra frente de uma serra com uma gigante pedra branca, mas parecia uma janela cintilante quando o sol batia nela...


Uma Ponta da serra que some pelo horizonte.

Descendo mais, antes de chegar no fundo do curral tinha um chiqueiro na beirada da porteira e do outro lado uma horta. Pouco antes de tudo dito a maquina de moer cana, de onde saia rapadura e garapa bem doce e saborosa toda manhã depois do trabalho.
Anos e anos repeti essa visão das 4 horas da manhã e todo o passar do tempo.

Mas com a vida terminando, eles decidem deixar a fazenda para os filhos, o lugar de tantas felicidades e amizades do Truco com tentos de semente, com o blefe bem famoso pela região:

- Nadir, você sai com o zap, eu com o sete ouro... Vou te mandar um "treizinho" só pra não assustar o cumpadre.

Seu blefe só tinha um problema...

Seu Altivo sempre acertava.

Das crianças nos dias de final de semana correndo e se espatifando pelo pasto, com espinhos no pé e mangas na mão, mulheres habilidosas com seus temperos mineiros todos misturados como um sangue de familia, da prosa curiosa e sempre bem iventada que Altivo contava ao anoitecer, sendo a atenção desviada apenas pelos tapas que dava-mos quando as muriçocas nos picava.

E aquela fazenda de tantos pés, de tantas crianças, de tantos sonhos e brincadeiras e que eles tanto lutaram pra construir, pé por pé, foi alagada pelo mar que arranjaram pra Minas....

E faleceu na mão de quem desconheço.

O que sobrou depois?
Nadir e Altivo fora morar em outra roça onde nada tinha, apenas um capim de areia, vaca magra e uma vista triste e cega até o horizonte da rodovia.

Nadir morrera de enfarto.

Altivo de desamor.